Mais de 15 anos depois da descoberta, no Uruguai, de fósseis de animais pré-históricos com supostas marcas de ferramentas humanas, a publicação do caso em uma revista científica reavivou a discussão entre os que consideram que o material redefine a antiguidade do homem na América e os que desconsideram a evidência.
Divulgado recentemente na revista britânica "Proceedings of Royal Society", o estudo, chefiado pelo paleontólogo uruguaio Richard Fariña propõe que os ossos encontrados em Arroyo del Vizcaíno (cidade de Sauce, 35 km ao norte de Montevidéu) mostram que havia presença humana no continente americano há 30 mil anos, o dobro do tempo estimado segundo as teorias mais aceitas.
"É surpreendente que este lugar tão antigo, se é que tem presença humana, esteja tão ao sul e tão ao leste como o Uruguai", o que, se for aceito pela comunidade científica internacional, seria "uma descoberta de grande importância para toda a América", declarou Fariña.
O que começou em 1997, quando uma forte seca deixou descobertos vestígios fósseis, que a princípio foram coletados por estudantes da região, pôs sobre o tapete uma jazida com "restos abundantes de megafauna sul-americana", comentou Fariña a respeito dos mais de mil ossos descobertos até agora.
Segundo o paleontólogo e seus colaboradores, cerca de 5% dos fósseis encontrados apresentam marcas que têm as características de ferramentas humanas, sugerindo uma presença humana entre 29 mil a 30 mil anos atrás. Para os pesquisadores, outra evidência de que a mão do homem está representada na jazida é a composição por idades dos ossos animais presentes no local: a alta representação de adultos em plenitude dentro dos restos se contrapõe com jazidas produto da ação continuada dos carnívoros, onde peças de juvenis e de anciãos são as mais numerosas.
Eles descartam, no entanto, que a ação fluvial na corrente de água tenha sido a causadora do acúmulo de ossos porque a corrente de água é frágil demais para mover este tipo de fóssil. Isto reforçaria a hipótese de que o homem foi o criador deste sítio, afirmam.
Embora o estudo tenha gerado no Uruguai grandes expectativas na comunidade científica, alguns colegas de Fariña põem em dúvida o valor arqueológico do sítio estudado. O Arroyo del Vizcaíno "é um sítio paleontológico espetacular, mas a dúvida principal é se um sítio arqueológico (...) que tem marcas (supostamente humanas nos ossos) pode ter sido provocado por agentes naturais", declarou o arqueólogo Rafael Suárez.
Suárez assegurou que a equipe que trabalha na jazida descoberta o faz sem atender a padrões de escavação arqueológica; além disso, tirou o caráter único da possível descoberta, afirmando que "não há dúvida de que o homem pode ter chegado há 30, 40, 50 mil anos atrás à América, isto não está em discussão".
Fonte: G1.
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